tag:blogger.com,1999:blog-33223993890008940242024-02-08T00:14:24.228-03:00mais grafite.antes de tudo, um estudoAnonymoushttp://www.blogger.com/profile/02185467810868931737noreply@blogger.comBlogger47125tag:blogger.com,1999:blog-3322399389000894024.post-1929242793710421932014-07-01T02:16:00.002-03:002014-07-01T02:16:20.605-03:00SinfoniasEcoa tudo que é ser.<br />
Palavra lançada no infinito, o teu nome<br />
- ou melhor: nada de infinito.<br />
Este momento aqui, este, entre a luz que entra<br />
e aquele sol que vai embora.<br />
Com a mão repousada em meu pescoço,<br />
sussurra o que se diz no meu ouvido.<br />
Então ecoa.<br />
Ecoa como tudo quer ser.<br />
Na caverna, um que senta nu e molhado,<br />
sibilando horrores, ouve.<br />
Sorri. Um descanso. De quê?<br />
Um descanso. Aonde?<br />
O vento corre, um assobio.<br />
Tuas paredes cantam sempre.<br />
Socorrem-me essas suas sinfonias.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02185467810868931737noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3322399389000894024.post-69421562883179336372014-06-16T18:18:00.001-03:002014-06-16T18:18:19.259-03:00Histórias Sobre a Morte (IV)I.<br />
in stein<br />
a rose has never been<br />
morose<br />
<br />
II.<br />
no túmulo do mundo<br />
minha avó<br />
uma rosa é:<br />
palavra lapidada<br />
na pedra<br />
antônia<br />
<br />
III.<br />
uma ausência me escreve<br />
canções de permanência<br />
retorno ao retorno a<br />
dizer esta morte<br />
<br />
IV.<br />
minha avó era um móbile<br />
nunca mo-<br />
rosa acinzentada<br />
o tempo fez<br />
o corte<br />
<br />
V.<br />
a palavra rosa<br />
forte a palavra<br />
rosa forte a<br />
palavra rosa forte<br />
<br />
VI.<br />
da minha avó<br />
nunca cri na morteAnonymoushttp://www.blogger.com/profile/02185467810868931737noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3322399389000894024.post-85687448742472710522014-05-04T21:58:00.001-03:002014-05-04T21:58:32.799-03:00azul<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCR1WvNSER0T7xh2lBFH7hPy3RAvbJsL2qvx9ALPcDEghrw2RNm7OZOTCybIH4GqUjm2xJI1bj9DOd41bcg1S5ZiqwsERPYo9zcPqep33NXrJulhrfeKpxvLXHjDwH-ZiXbbzlI7SJN1OV/s1600/azul.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCR1WvNSER0T7xh2lBFH7hPy3RAvbJsL2qvx9ALPcDEghrw2RNm7OZOTCybIH4GqUjm2xJI1bj9DOd41bcg1S5ZiqwsERPYo9zcPqep33NXrJulhrfeKpxvLXHjDwH-ZiXbbzlI7SJN1OV/s1600/azul.jpg" /></a></div>
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02185467810868931737noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3322399389000894024.post-22725197242407907652014-04-28T19:48:00.002-03:002014-04-28T19:48:30.902-03:00este é o nosso segredo:<br />
escrever nunca é o segredo.<br />
é ser não esfinge mas édipo<br />
decifrar, devorar, matar o pai<br />
perfurar os olhos etc.<br />
<br />
este aqui é o broche -<br />
uma ponta aguda, os rios<br />
de sangue em cada poema<br />
gota é pouco<br />
<br />
aqui veio morrer o sagrado<br />
o inominável nominado<br />
eis zeus e zeus se fez,<br />
morreu aos cinquenta e oito<br />
e deixou dois netos<br />
<br />
e eis seus netos, assassinos<br />
do avô: cortaram-lhe as rodas,<br />
lançaram-nas ao mar - nada<br />
aqui, aqui só, o Caos<br />
<br />
o mundo é fácil, narciso vive<br />
tudo é puro agrado<br />
como vai? hasta la vista<br />
até mais logo minha flor<br />
e toda sorte virtuais<br />
<br />
o horror, logo, isto<br />
horror eu digo - eu grafo:<br />
uma estátua queda no deserto<br />
e os prodígios dos homens velhos<br />
não valem nada mais - orfeu,<br />
por deus, desvelai por nós!Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02185467810868931737noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3322399389000894024.post-2285997740173518072014-04-27T21:50:00.001-03:002014-04-27T21:51:21.769-03:00Histórias Sobre a Morte (III)<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">I.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">a barbárie:</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">prender corpos em retângulos</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">nos porta-retratos</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">somos todos mortos</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">II.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">ouvi de uma senhora:</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">"menino, pare com isso!</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">com a morte não se brinca"</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">hoje ainda a ouço, refeita</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">"menino, pare com isso!</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">com morte não se pode rimar"</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">III.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">lançaram-se ao mar</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">rumo às terras indescobertas</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">alguns deles não saíram</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">do velho fim do mundo</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">outros conheceram o gigante</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">o resto foi buscar o fundo</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">todos se perderam no caminho</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">as terras são ainda </span><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">indescobertas</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">IV.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">pensei em escrever</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">a minha avó</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">num barco à vela</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">pensei na barbárie:</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">"com a morte</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">não se rima"</span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02185467810868931737noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3322399389000894024.post-50256301558203458682014-03-29T15:01:00.002-03:002014-03-29T15:01:17.510-03:00não se faz a estrada com os passos<br />
nem os passos com a estrada<br />
não se faz: se é<br />
aquilo que quer dizer,<br />
não se diz: se faz<br />
<br />
não se segue nem conclui<br />
o mundo é feito de pequenas<br />
quebras<br />
e o que vem nunca é<br />
o que vai<br />
(é uma<br />
a escolha)<br />
<br />
:<br />
círculo o círculo<br />
circunscreve<br />
a<br />
s<br />
s i<br />
m<br />
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02185467810868931737noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3322399389000894024.post-4809872430280547952013-12-15T23:10:00.002-02:002013-12-15T23:10:55.609-02:00Sobre DeusSeus olhos estavam presos às infinitas telas que se multiplicavam pelo firmamento. Por cada olhar, a vida de um que nascia e morria em imensuráveis milissegundos, o choque da existência inteira estendida e entendida por cada célula como impossivelmente única. Deus, possuidor de todas as coisas, sempre sentado na terceira estrela mais brilhante, nos olhava como quem nos sonhava, milhares, milhões de pixels acumulados em experiências preenchidas de memórias. Ele nos conhecia como quem conhece o mecanismo mais simples, e seu sorriso despejava sobre nós bênçãos sobre bênçãos, sem que nós nunca em nenhum momento as pedíssemos.<div>
<br /></div>
<div>
Deus não tinha a misericórdia do homem superior. Ao contrário, sua misericórdia andava entre nós e abaixo de nós, nas lamas mais sujas e nos becos mais escuros. Deus sentando nas estrelas nunca nos olhou de cima; Deus era pura alteridade e só conhecia os caminhos do horizonte. Não conhecia o mais vil e mais mesquinho, ou o mais triste e mais derrotado; ele o era. Babava profanidades e gritava seu ódio no silêncio imóvel do espaço e, seguidamente, retratava-se, compreendendo que não havia premeditação no mal: nem sequer havia o mal. O que havia era o humano e a sua eterna admiração por ele. Nada lhe parecia mais verdadeiro do que um homem tolo, que tropeça nos próprios pés e finge andar sem embaraços.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Um dia uma nave passou à esquerda da estrela onde morava Deus. Observou-os com grande interesse e atenção. Os astronautas saíam em busca de - em ordem de importância - um lar, um parque de diversões e algumas respostas. No lugar de tudo isso, encontraram uma grande pergunta: quem é aquele na estrela? Para cada um, Deus apareceu diferente: um pai deitado em uma maca; um cachorro raivoso; uma avó contando histórias para seus netos; um genocida odiado; uma adolescente negra recitando seus poemas. Para Deus, todos eles eram absolutamente únicos, seus passados, futuros e presentes aglutinados em um momento no tempo e no espaço, um ponto de coerência em uma floresta de luzes caóticas.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Do encontro, nasceu o entendimento. Os astronautas, mesmo sem saberem, sabiam. Choravam e sorriam, vestidos em seus capacetes, e reconheciam. Não éramos mais crianças perdidas flutuando no vazio, ou grandes filhos das estrelas cheios de promessas e fadados ao fracasso. Éramos, sim, tudo o que era impossível, tudo que era novidade. A existência era o que já é velho e já é belo em seus próprios termos; nós éramos a inexistência, aquilo que tem que se provar e que, tentando se provar, já está provado. Sabíamos agora: Deus sorria para nós como também sorria para todas as outras coisas, e isso nos tornava especiais, como eram especiais todas as outras coisas.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Sentando em sua estrela, a terceira mais brilhante, Deus morria lentamente. Era agora conhecido por nós, e se seus olhos continuavam atentos, suas telas já não eram mais infinitas. A ternura de uma divindade que definha era a condição para a nossa existência: todo o dia o céu brilhava mais forte e o que era humano se tornava mais humano. Deus, no seu último dia, desceu da estrela e se deitou no corpo da Terra, carinhoso, sentindo tudo que fomos, somos e seremos correndo pela sua carne, brincando em suas formas que eram ao mesmo tempo retas e curvas. Seu corpo com o nosso foram se unindo lentamente, como uma reza, e fomos juntos nos espalhando. Quando o último humano se uniu à última parte divina, vivemos todas as nossas histórias e cantamos todas as nossas canções.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
No dia que raiou, uma criança nasceu chorando e seus olhos estavam presos às infinitas telas que se multiplicavam pelo firmamento.</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02185467810868931737noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3322399389000894024.post-45343362921328923912013-12-15T20:16:00.000-02:002013-12-15T20:18:24.850-02:00Ao nosso ancestral comumao nosso ancestral comum<br />
que morreu sozinho<br />
em um floresta qualquer<br />
e que nos deixou de herança<br />
essa tristeza de existir<br />
<br />
ao nosso ancestral comum<br />
que não falou palavra<br />
e que não chorou lágrima<br />
quando morreram teus pais<br />
nas mãos do esquecimento<br />
<br />
ao nosso ancestral comum<br />
que agrediu seus pares<br />
e descobriu o sexo<br />
- descobriu as armas<br />
e matou o seu redor<br />
<br />
ao nosso ancestral comum<br />
que incendiou a si mesmo<br />
nos tempos dos deuses mortos<br />
e destruiu as estátuas<br />
para fazê-las novas<br />
<br />
ao nosso ancestral comum<br />
que virou a casca<br />
da qual nasci<br />
e que odiei<br />
por me deixar sua marca<br />
<br />
eu escrevo.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02185467810868931737noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3322399389000894024.post-19681358832371071472013-12-13T01:55:00.002-02:002013-12-13T01:55:57.186-02:00In my abyss Is me<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjpuBoG8s18YFbnnMDvKxmKK2B2xyx_yVgyCfX1CfeSsCtzUaIB9TQNLMytzSoxiAAdd6ZJt_yLzh0FhhDclYvlHNvAPr3Qp-m3_IiM6QgTIZ4R-rwnCJY69yG9P5NrnQ66bSufcazoZ6L/s1600/in+my+abyss+is+me.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjpuBoG8s18YFbnnMDvKxmKK2B2xyx_yVgyCfX1CfeSsCtzUaIB9TQNLMytzSoxiAAdd6ZJt_yLzh0FhhDclYvlHNvAPr3Qp-m3_IiM6QgTIZ4R-rwnCJY69yG9P5NrnQ66bSufcazoZ6L/s640/in+my+abyss+is+me.jpg" width="466" /></a></div>
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02185467810868931737noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3322399389000894024.post-12761493761800282172013-12-07T00:08:00.000-02:002013-12-07T00:16:37.767-02:0013 de Maio de 2027, Abolição da EscravaturaA escrivaninha de mogno cuspia fumaça enquanto o barômetro fumava o barão. Nas lavouras de algodão, os cães latiam suas tristezas: no dia 13 de maio de 2027, a princesa Isabel assinou nas paredes de um edifício abandonado a abolição da escravatura. Depois de gerações sofrendo estavam libertos os que foram um dia escravizados, e os monumentos imóveis dessa terra observavam os nossos majestosos passos em direção ao futuro.<br />
<br />
Os grandes capitães da indústria, retorcendo seus bigodes de feno, reuniram-se em um ginásio, sentados em cadeiras de plástico antes ocupadas por grandes garrafas que discutiam seus vícios. Os capitães, com suas carrancas desenhadas a giz-de-cera e seus chapéus do trapo mais fino, buscavam remediar o irremediável. Os carros haviam buzinado suas vontades: não mais haveria nessa terra gloriosa o horror da escravidão, que tanto manchava a nossa imagem internacional. Agora nós seríamos capazes de olhar para os convidados estrangeiros com a cabeça erguida e o sorriso confiante da nossa pureza. "O que é irremediável remediado está", cacarejou um dos capitães, e os outros o acompanharam: tudo se resolveria.<br />
<br />
A nação convulsionava em festa. Os sóis sambavam todos e os céus marcavam o ritmo em suas latinhas de cerveja. Seríamos modernos! Armas e peixeiras, todas as classes de cidadãos se uniam nas ruas e cantavam a nossa grandeza nacional, a nossa hombridade individual, a nossa vitória humana. Os garçons serviam aos palácios coquetéis molotov, que tentavam seduzir as estruturas mais jovens - e de curvas mais acentuadas - com suas grandes vozes embargadas. As togas e perucas herdadas dos nossos pretéritos desejos brindavam à saúde e à eternidade do novo.<br />
<br />
Fardados da bandeira, os condomínios marcharam pelas cidades das ruas. Corrigiram todos os nossos enganos com uma pichação e agora construíam todos essa poderosa alvorada esperada desde que Dom Sebastião pegou sua moto e fugiu para o fundo do espaço. Em algum firmamento, o lugar sorria para nós, e Deus, filho de um multimilionário falido com um torno mecânico, nos abençoava com seu silêncio aprovador.<br />
<br />
Existiam, claro, os descrentes. Não viviam perseguidos, como imaginavam que aconteceria - nunca viveram numa ditadura, não iriam vivê-la agora. Os hereges, ao contrário, eram silenciosamente celebrados. Todas as placas que insistiam em acusar o suposto absurdo da nossa conquista - e o que teria de absurdo nisso tudo? - geravam a confirmação que precisavam: podem discordar de nós, já que toda unanimidade, afinal, é burra, como nos ensinou o nosso Velho Presidente e Grande Cidadão. Na nossa infinita festa, entrariam todos os cidadãos.<br />
<br />
Então tinham os antigos escravos, barrados na entrada. Homens e mulheres, crianças e idosos, milhares, milhões de pessoas andavam sem direção pelas esquinas esquecidas de um país em polvorosa.<br />
<br />
E o sol nasceria novamente no horizonte dos justos e dos bons.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02185467810868931737noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3322399389000894024.post-80706809204926800662013-12-04T02:27:00.000-02:002013-12-04T02:27:50.202-02:00Uma mulher.<div style="background-color: white; border: 0px; color: #222222; line-height: 20px; margin-bottom: 15px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">existe muita beleza em tudo isso. olhamo-nos um ao outro, pupilas dilatadas, esquecidos. você dista de mim o exato comprimento de uma vida inteira. seus cabelos são mais curtos do que eu quereria, mas você não se ajoelha a mim, não, não. e se se ajoelha é por me ver fazer o mesmo. observo a sua mão que domina o movimento preciso de lançar-se ao mundo. seu sorriso é torto, com aquelas sacanagens que só quem viu e viveu é capaz, e a curva da sua bochecha cabe perfeitamente na curva da minha mão: ó quão semelhante estás.</span></div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #222222; line-height: 20px; margin-bottom: 15px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">eu te amo, minha irmã impossível, minha história mal contada. eu te amo, minha filha não gestada.</span></div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #222222; line-height: 20px; margin-bottom: 15px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">aproximo-me de ti com vontade de explorá-la, milimetricamente juntada por peles e dentes e ossos. seus olhos olham como meus olhos e seus seios me acusam como indicador algum acusou antes. meus dedos se aproximam do seu braço, que antes de tudo parece tão meu. já vi essa marca, já vi essa cicatriz… seus peitos mantém a acusação, e seu sorriso torto me entorta. passeio pelos teus vales e pelos, teus bens e teus males. eu já te vi algum outro dia? ou já caminhamos as mesmas veredas - e nos desencontramos em cada bifurcação? seu sorriso me lembra o meu sorriso e se teus peitos me acusam, te acusam os meus. e se seu pinto se desvia para a esquerda, é por confundir-se com aquele que é o meu.</span></div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #222222; line-height: 20px; margin-bottom: 15px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">eu te amo, minha indissociável. eu te amo, minha oposta. eu te amo, minha mesma. eu te amo, eu mesmo.</span></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02185467810868931737noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3322399389000894024.post-79801661643764871722013-12-02T18:33:00.000-02:002013-12-02T18:33:50.996-02:00Logos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0nRGehrScSfb_XvICKpdI8w-jD66RvpFCEVFlKDfHHrAU7qhCNM3RbTGr0Rn6_qPcKweshWrFVSDG_yA9a93i0xxlLwdx8LrNg2VJhOp8ev7rSzNzBq7HmSllvoyzeVWhF_EtxyUdZxmM/s1600/escatol%C3%B3gos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0nRGehrScSfb_XvICKpdI8w-jD66RvpFCEVFlKDfHHrAU7qhCNM3RbTGr0Rn6_qPcKweshWrFVSDG_yA9a93i0xxlLwdx8LrNg2VJhOp8ev7rSzNzBq7HmSllvoyzeVWhF_EtxyUdZxmM/s1600/escatol%C3%B3gos.jpg" height="166" width="640" /></a></div>
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02185467810868931737noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3322399389000894024.post-88194977174878326472013-11-26T01:27:00.000-02:002013-11-26T01:28:05.685-02:00Catálogo de PassadosExistem muitos passados.<br />
<br />
I.<br />
Quando eu nasci - talvez fora noite - não me lembro de ter chorado. Cortaram a barriga da minha mãe e dali saiu este, tão igual a todas as coisas. Aquele ali não sou eu, aquele que nasce. Ele é anterior a mim, é meu ancestral, e contém em si toda a sabedoria do desconhecimento absoluto.<br />
<br />
II.<br />
As amoras nunca mais existiram depois que envelheci. Gostava de esmagá-las mais do que de comê-las, e fingia mil atrocidades que teria tingido minhas mãos de um vermelho quase negro - as amoras foram o sangue da minha infância.<br />
<br />
III.<br />
A minha cidade pequena foi um dia a minha cidade grande. Toda brincadeira de rua parecia existir em um universo infinito e restrito: tanto começo quanto o fim existiam, mas a distância entre os dois era imensurável. Não havia perna longa o bastante para correr toda essa terra.<br />
<br />
IV.<br />
Um garoto certa vez me prendeu contra a parede, me segurando pela gola. Imediatamente retorci o nariz dele para me defender, o empurrei e saí correndo. Lembro do meu pai me dizer que da próxima vez que eu alguém me agredisse, eu deveria socá-lo no rosto. Algumas pessoas já me agrediram e eu nunca soquei ninguém.<br />
<br />
V.<br />
Meu professor de inglês, que eu detestava e que ele devia saber, disse em sala que eu fazia piadas e insistia no riso como uma forma de me esconder das pessoas. Eu ri e ele disse que isso corroborava com sua teoria. Um episódio, duas lições: nem todo holofote é bom e nem toda observação deve ser feita.<br />
<br />
VI.<br />
Em um dos nossos primeiros diálogos, ela me perguntou: "você tem tendências homossexuais?". Andávamos de mãos dadas. Um amigo perguntou se eu estava namorando com ela e por um segundo eu não soube responder. Devia já estar.<br />
<br />
V.<br />
Meus sapatos estavam sujos de vômito e minha cabeça balançava em incontáveis direções. Na mão, o celular: "estou sozinho e não consigo ver nada, me ajuda!". Estávamos brigados, mas ela não desligou. No dia seguinte nos encontramos e eu pude pedir outras desculpas.<br />
<br />
VI.<br />
Conhecemo-nos pela primeira vez no carro de um amigo, e mal nos olhamos. Quando nos vimos de novo eu nem a percebi, mas ela me percebeu. Beijamo-nos brevemente durante a festa enquanto eu pensava em uma das amigas dela. Mal sabia eu.<br />
<br />
VII.<br />
Cheguei cedo no bar para o evento e ela fazia parte da organização. Ajudei a montar algumas coisas e depois ficamos conversando por longas horas. Eu não pensava em mais nenhuma de suas amigas ou em qualquer outra coisa senão no seu sotaque indefinível.<br />
<br />
VIII.<br />
Na noite do meu aniversário, ela me contou que tinha uma namorado no exterior e que ele viria para Brasília. Na noite do meu aniversário, ganhei de presente um vinil, um disco e um adeus - mesmo que tenhamos nos visto outras vezes depois.<br />
<br />
IX.<br />
Conheci ela em uma festa enquanto afogava minhas mágoas numa latinha de cerveja. Ela era mais alta do que eu, mas disso não consigo me lembrar. Seu batom era vermelho e quando nos beijamos minha boca tornou-se também. Não nos vimos por muito tempo, até nos vermos novamente. Namoramos.<br />
<br />
X.<br />
Fomos juntos a um café e lá conhecemos uma de suas amigas. Ela era bonita - a mais bonita da mesa - e seu namorado era extremamente simpático. Meses depois, terminamos e eu passei a me encontrar com sua amiga.<br />
<br />
XI.<br />
Passamos nossa primeira noite emudecidos. Deitamo-nos um do lado do outro e tocamos nossos corpos com carinho, correndo os dedos pelas costas, pele contra pele. Não nos beijamos, mas talvez nunca tenhamos querido um ao outro como naquele momento.<br />
<br />
XII.<br />
Viajamos juntos, mais seu irmão e uma de suas amigas. A sua beleza era maior quando saía do banho: com o corpo enrolado em sua toalha e o cabelo ainda molhado que se permitia algumas bagunças proibidas aos cabelos secos.<br />
<br />
XIII.<br />
Nos encontramos novamente, como sempre nos encontramos. Ela não me pergunta mais se tenho tendências homossexuais, e os nossos sorrisos são cheios de reconhecimento: vivemos e doemos juntos muita coisa. O nosso beijo não é só esse, mas é todos os outros - o passado marca os nossos toques.<br />
<br />
XIV.<br />
Quando eu nasci - talvez fora noite - não me lembro de ter chorado. Quando eu nasci, não me lembro de nada. Ele que nasceu é anterior a mim, um ancestral abençoado pelo desconhecimento. Ele não me conhece e a mim só é permitido imaginá-lo. Ele, esse do quando eu nasci, só se assemelha a mim quando escrevi: "Existem muitos passados". E continuou se assemelhando a cada linha que escrevi. E mesmo aqui, nesse ponto final, aquele que quando nasci a mim se assemelha.<br />
<br />
Quando nasci - talvez fora agora - não me lembro de ter chorado.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02185467810868931737noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3322399389000894024.post-63061448885563379612013-11-25T18:31:00.000-02:002013-11-25T18:31:46.963-02:00Querida Luíza,Escrevo de muito longe.<br />
<br />
Lembra, Luíza, quando eu te carreguei no colo? Talvez você não lembre; talvez você nem seja. Eu me lembro e eu te amei, querida. Eu me lembro que te amei. Os seus olhos arregalados (ou serão eles mais fechados?) me viam e os meus olhos arregalados (ou serão eles mais enrugados?) te refletiam. E quando nos encontramos pela primeira vez, no limite daqueles campos, eu de um lado e você do outro, lembra como você não me conheceu? Você me reconhece, Luíza? Eu te vi naquelas fotos antigas e naquelas fotos novas; sua vida tocou os dois extremos de um tempo, o mais passado e o mais futuro, o ponto de origem dessas ruínas circulares.<br />
<br />
A casa da rua principal agoniza lentamente e em seus últimos suspiros ela sussurra seu nome. Como você foi embora daqui, Luíza?, e como você estará? A cidade atinge sua alta hora e batem os sinos da Catedral; o abismo se aproxima e, Luíza, você se foi. O aqui é insustentável; o antes é invisível; o depois é inalcançável; você existe longe do tempo e no todo do espaço. Te vi no limite dos campos e você não me viu. Depois, te carreguei. Antes, você morreu. Agora, você é.<br />
<br />
Luíza, não te preocupa que você é jovem. Jovem e bonita como as rugas da sua mãe. Lembre-se que a vida é infinita - mas não a minha. Lembre-se que tudo o que você será um dia não foi: a graça está nisso. Lembre-se que não há tempo exceto todo o do mundo. Lembre-se que quando eu te carregar no colo, eu te amo. Lembre-se que quando você me carregou no colo, eu era novo e você não era.<br />
<br />
Somos duas crianças, Luíza, brincando no parque, somos dois idosos, Luíza, sentados no parque.<br />
<br />
Somos e seremos, Luíza.<br />
<br />
Manda tua mãe me escrever.<br />
<br />
Um beijo e uma bênção,<br />
<br />
Arthur.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02185467810868931737noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3322399389000894024.post-16760649024357514212013-11-20T00:38:00.000-02:002013-11-20T00:44:53.843-02:00RuínasUm homem atravessa o deserto. O sol tinge as areias de dourado e seus passos cruzam para o sul, além daquele vale. O rosto do homem é a ruína que ele busca; pilares de concreto e pedras derrubadas povoam essas terras desabitadas. O homem se aproxima das ruínas e os esqueletos não o percebem.<br />
<br />
"Os mortos estão fartos de nós", pensa o homem. Os ossos não respondem. Nunca houve humano que pudesse fazê-los falar. "Peço perdão pelo incômodo", fala o homem, "mas venho aqui em busca de algo que vocês possuem". As caveiras deitadas no chão não respondem.<br />
<br />
O homem olha para o horizonte. Além daquele deserto estava a cidade que abandonou, fugido. O seu pai lhe disse antes de sua peregrinação: "Vá ao sul e chegue nas ruínas. Lá, os mortos sussurrarão o seu caminho e você estará livre. Não volte".<br />
<br />
O peregrino fez silêncio e tentou ouvir o som que os mortos fazem. O vento sibilava e além disso não havia nada. Serão essas as minhas ruínas?", pensou o peregrino. Para todo o lado, o deserto era só areia e no vento não havia voz que lhe guiasse.<br />
<br />
O peregrino se ajoelhou ao lado dos ossos e pediu silenciosamente por guia. "Lá, os mortos sussurrarão o seu caminho e você estará livre". Uma rajada de vento cortou a ruína, levantou a areia e cegou o estrangeiro, que se levantou desesperado e tropeçou seu caminho para longe.<br />
<br />
Fugindo da tempestade de areia, o estrangeiro correu para o sul. Em meio aos ventos violentos, ouviu nitidamente a voz de seu pai: "Não volte. Não volte. Não volte". O estrangeiro subiu uma duna e limpou seus olhos com o resto de água do seu cantil. Do alto do aclive, o estrangeiro viu, estendida sob si, uma cidade em ruínas, extensa como um labirinto, habitada por infinitas vozes sussurrantes.<br />
<br />
O estrangeiro desce o aclive em direção às ruínas. Seus olhos molhados, cansados por eras e cheios de dor e beleza, se põem sobre as pedras secas. Em cima delas, um esqueleto cujas vestes ele reconhecia tão bem. "Vá ao sul e chegue nas ruínas. Lá, os mortos sussurraram o seu caminho e você estará livre. Não volte". Os ossos de seu pai, deitados na frente de sua cidade arruinada, fazem silêncio e o vento que os envolve não corre em nenhuma direção.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02185467810868931737noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3322399389000894024.post-30024225735979244952013-11-04T23:55:00.002-02:002013-11-04T23:55:36.249-02:00Uma Tristezameu passado não é pomar<br />
eu cresci com o ferro<br />
e com as barras<br />
e passarinho nunca piou por aqui<br />
<br />
não conheci os prazeres da fruta vermelha<br />
nem joguei pelada em campos de barro<br />
a minha memória é uma sala escura<br />
de pensamentos congestionados:<br />
me esqueço todo dia<br />
da meta bucólica<br />
de saudosas malocas<br />
de tempos enevoados<br />
<br />
a minha lápide de concreto<br />
virá com o epitáfio:<br />
"Aqui jaz Arthur,<br />
o amemoriado"Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02185467810868931737noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3322399389000894024.post-45836782747404896912013-10-17T01:14:00.001-03:002013-10-17T01:14:58.101-03:00Linha do Horizonte<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2GsDL5X8vfDHziH8FjfHGXhJaCXAcWrjHVUlNc-tEY4P-2S8C_evlVHFVUWNJyKcKNnYqh61r8h4ar2bqrmbw-HgOUc3_8RQldg3Ebm6ITI6LTkA2AoCQH6WVKgKJOvZ_IKVfXxI6u3v_/s1600/non+sequitur.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2GsDL5X8vfDHziH8FjfHGXhJaCXAcWrjHVUlNc-tEY4P-2S8C_evlVHFVUWNJyKcKNnYqh61r8h4ar2bqrmbw-HgOUc3_8RQldg3Ebm6ITI6LTkA2AoCQH6WVKgKJOvZ_IKVfXxI6u3v_/s1600/non+sequitur.jpg" /></a></div>
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02185467810868931737noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3322399389000894024.post-90353873480578478182013-10-15T21:48:00.001-03:002013-11-20T00:40:46.413-02:00O Reinado<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtZuTE76UXfjaRWz0QWWdS00X7Kzx6Bhht_KtEPaeJ64pB6OQ2siqeQ0qyBxj9ixGyMV7t4K_rwpYZLr4a3B8pRp-RNwVtXIuo-QDqZ5qJLoJ5bhtUYup_5fRXqeadt2UFQwfUDK7Gy-CD/s1600/Reinado.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtZuTE76UXfjaRWz0QWWdS00X7Kzx6Bhht_KtEPaeJ64pB6OQ2siqeQ0qyBxj9ixGyMV7t4K_rwpYZLr4a3B8pRp-RNwVtXIuo-QDqZ5qJLoJ5bhtUYup_5fRXqeadt2UFQwfUDK7Gy-CD/s1600/Reinado.jpg" height="640" width="376" /></a></div>
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02185467810868931737noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3322399389000894024.post-69828760173230715702013-10-15T21:22:00.002-03:002013-10-15T21:22:59.172-03:00Histórias Sobre a Morte (II)<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">I.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">lápides seguem lápides</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">o sol é forte</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">o céu é seco</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">um cemitério é só</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">um cemitério</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">II.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">me trancaram </span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">num baú</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">na casa da minha avó.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">depois morri</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">e me trancaram </span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">num caixão</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">III.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">um baú quebrou</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">na avenida central</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">e sonhamos</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">como sonham sardinhas:</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">túmulos </span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">com </span><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">uma vista melhor</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">IV.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">minha avó viveu</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">na minha cidade</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">e agora mora</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">em outros planos</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">com uma vista melhor</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">V.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">blocos seguem blocos</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">o sol é forte</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">o céu é seco</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">brasília é só</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">brasília</span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02185467810868931737noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3322399389000894024.post-78358733379151069652013-10-09T18:33:00.004-03:002013-10-09T18:33:47.820-03:00Brasília Dois em Um (para cummings)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjetVfIlg_CYDS3Hyg5b5XPOfYk_k3D5pB3LGmNWUTcCGApQl8YXDYAu3ix53RvkUIIpwi1F54Jn4mtnhoSlkNBHEyM2VVEolzk7eltnQLgSjGjmRXhQW3f01E-HhTCySDGIQzKNBWZ3tM8/s1600/Bras%C3%ADlia+(para+cummings).jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjetVfIlg_CYDS3Hyg5b5XPOfYk_k3D5pB3LGmNWUTcCGApQl8YXDYAu3ix53RvkUIIpwi1F54Jn4mtnhoSlkNBHEyM2VVEolzk7eltnQLgSjGjmRXhQW3f01E-HhTCySDGIQzKNBWZ3tM8/s1600/Bras%C3%ADlia+(para+cummings).jpg" height="640" width="279" /></a></div>
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02185467810868931737noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3322399389000894024.post-88139941172281164532013-10-09T00:06:00.003-03:002013-10-09T00:06:37.290-03:00Cartão Postal<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeYdFdrKft3-rbXKFs8Co2qqV74C8coJn8nI0Nis4q4vHnZ_fe5FmYICaxZ9yER3Y9NhEKnpL0YRqovovNp_sY0sVPacpFtm9vYdVR_ErWfnDQbneSWmqoEUUQ4aoucx7a0H-8ova87U3v/s1600/Bras%C3%ADlia+n%C3%A3o+te+quero.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeYdFdrKft3-rbXKFs8Co2qqV74C8coJn8nI0Nis4q4vHnZ_fe5FmYICaxZ9yER3Y9NhEKnpL0YRqovovNp_sY0sVPacpFtm9vYdVR_ErWfnDQbneSWmqoEUUQ4aoucx7a0H-8ova87U3v/s1600/Bras%C3%ADlia+n%C3%A3o+te+quero.jpg" height="547" width="640" /></a></div>
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02185467810868931737noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3322399389000894024.post-64721135308155358962013-10-05T02:39:00.002-03:002013-10-05T02:39:23.526-03:00Dito<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjmt0S_p37N_XaN0BTDGfLLgZAgjwEdI_cSdFSOstVz8V6XxzUWCrUZXbZ94xWgE05o2mPrnzDBBP58EiE8C2OC85Efm6rqGv5krpmtXdAgQEYKz6FZNgMU6imHmKxjPbZs19tYNEp7KYX/s1600/Dito.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjmt0S_p37N_XaN0BTDGfLLgZAgjwEdI_cSdFSOstVz8V6XxzUWCrUZXbZ94xWgE05o2mPrnzDBBP58EiE8C2OC85Efm6rqGv5krpmtXdAgQEYKz6FZNgMU6imHmKxjPbZs19tYNEp7KYX/s1600/Dito.jpg" height="406" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02185467810868931737noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3322399389000894024.post-1339160521104922642013-09-20T18:21:00.001-03:002013-09-20T18:21:13.172-03:00Um corpo é só um corpo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcn5D3ZP2ytJ6r495uXc1MZJdhMAsH1nv-i0ev8Z2gnXtWn-uuFjBEdXIr1glha5Erp2dw-mPKN3XXd4MHpcDwZqgkBsfN7FtPHsUetk-hfncZPAhB4L9xN-w3w7fZKaizfWnnbV9kmVuh/s1600/um+corpo+%C3%A9.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcn5D3ZP2ytJ6r495uXc1MZJdhMAsH1nv-i0ev8Z2gnXtWn-uuFjBEdXIr1glha5Erp2dw-mPKN3XXd4MHpcDwZqgkBsfN7FtPHsUetk-hfncZPAhB4L9xN-w3w7fZKaizfWnnbV9kmVuh/s1600/um+corpo+%C3%A9.jpg" height="412" width="640" /></a></div>
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02185467810868931737noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3322399389000894024.post-47164472162401917132013-08-09T20:18:00.001-03:002013-08-09T20:20:29.746-03:00Toque em Três Atos<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">seu toque</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> repele</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> minha pele</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">me abre</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> me sangra</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">mefecha</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> minha pele</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">seu toque</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> repele</span><br />
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02185467810868931737noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3322399389000894024.post-87514222654217006142013-07-23T19:51:00.002-03:002013-07-23T19:52:08.269-03:00Uma Angústia<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">quantas malas se armam</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">para morar numa casa nova?</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">abraça velhos vestidos</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">manchados de saudade</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">de mágoa</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">move-se como se move um caracol</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">se arrasta e arrasta nas suas costas</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">tuas vidas</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">vis-à-vis, seus olhos</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">não mentem</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">seu passado</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">é presente</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">e eu, que queimo</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">tudo</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">numa fogueira</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">pra repetir</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">tudo</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">na terça-feira,</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">me choco</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">vou rasgar suas roupas velhas</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">seus planos</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">vou te abrir ao meio</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">e sorrir para o novo</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">você despida na minha frente</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">e eu te olhando</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">não se vista com minhas angústias.</span><br />
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02185467810868931737noreply@blogger.com0