segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Querida Luíza,

Escrevo de muito longe.

Lembra, Luíza, quando eu te carreguei no colo? Talvez você não lembre; talvez você nem seja. Eu me lembro e eu te amei, querida. Eu me lembro que te amei. Os seus olhos arregalados (ou serão eles mais fechados?) me viam e os meus olhos arregalados (ou serão eles mais enrugados?) te refletiam. E quando nos encontramos pela primeira vez, no limite daqueles campos, eu de um lado e você do outro, lembra como você não me conheceu? Você me reconhece, Luíza? Eu te vi naquelas fotos antigas e naquelas fotos novas; sua vida tocou os dois extremos de um tempo, o mais passado e o mais futuro, o ponto de origem dessas ruínas circulares.

A casa da rua principal agoniza lentamente e em seus últimos suspiros ela sussurra seu nome. Como você foi embora daqui, Luíza?, e como você estará? A cidade atinge sua alta hora e batem os sinos da Catedral; o abismo se aproxima e, Luíza, você se foi. O aqui é insustentável; o antes é invisível; o depois é inalcançável; você existe longe do tempo e no todo do espaço. Te vi no limite dos campos e você não me viu. Depois, te carreguei. Antes, você morreu. Agora, você é.

Luíza, não te preocupa que você é jovem. Jovem e bonita como as rugas da sua mãe. Lembre-se que a vida é infinita - mas não a minha. Lembre-se que tudo o que você será um dia não foi: a graça está nisso. Lembre-se que não há tempo exceto todo o do mundo. Lembre-se que quando eu te carregar no colo, eu te amo. Lembre-se que quando você me carregou no colo, eu era novo e você não era.

Somos duas crianças, Luíza, brincando no parque, somos dois idosos, Luíza, sentados no parque.

Somos e seremos, Luíza.

Manda tua mãe me escrever.

Um beijo e uma bênção,

Arthur.

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